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Aproveitamento Integral

Alimentos “imperfeitos”, desperdício e iniciativas sustentáveis

Frutas e legumes muito grandes ou pequenos, com diferentes formatos e cores, comida que a natureza nos oferece e com padrão de beleza único são os chamados alimentos imperfeitos e que, na maioria das vezes, os descartamos.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), metade dos resíduos sólidos gerados pelas áreas urbanas são orgânicos, como sobras de alimentos crus e cozidos de residências, restaurantes, hotéis e shoppings, bem como sobras de frutas, legumes e verduras de mercados e feiras livres. 

Uma pesquisa realizada pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da USP, identificou que nas feiras livres de São Paulo, cerca de 33 mil toneladas de alimentos são descartadas anualmente, o que gera perda de recursos e nutrientes, e impacto ambiental. Por outro lado, este número poderia alimentar muitas pessoas e diminuir a fome no país.

O destino destes resíduos é os aterros sanitários, que hoje se caracterizam como a terceira maior fonte de geração de metano - um dos gases geradores do efeito estufa - e que é produzido amplamente por meio da decomposição de resíduos orgânicos.

Impacto ambiental do desperdício em feiras livres por ano

Fonte: “Desperdício de frutas, legumes e verduras em feiras livres de São Paulo: contribuições para o diálogo e políticas públicas”, Sylmara Lopes Francelino Gonçalves Dias, EACH-USP, 2017. 

Nutricionalmente, o quadro representa a perda anual de:

  • Pouco mais de 13 bilhões de calorias;
  • Cerca de 650 mil quilos de proteínas;
  • 880 mil quilos de fibras alimentares;
  • 9 mil quilos de vitamina C.

O desperdício ocorre ao longo de toda a cadeia de produção e é ocasionado por diversos fatores, como:

  • Modelo de produção intensiva;
  • Manuseio inadequado durante o transporte e o armazenamento;
  • Prazos de validade curtos e promoções que estimulam o comportamento de consumo exagerado. 

Alimentos “imperfeitos”

Outro problema é a preferência dos pontos de venda por frutas e legumes “perfeitos” que faz com que o desperdício ocorra na seleção dos alimentos, por conta de não cumprirem os requisitos estéticos como, cor, tamanho, formato, entre outros.

Alimentos imperfeitos fogem do padrão estético, mas possuem os mesmos benefícios nutricionais dos convencionais

Na hora da compra, muitas pessoas acreditam que as hortaliças que destoam dos padrões são menos saborosas e nutritivas. Essa tendência levou o mercado a ofertar apenas o que o consumidor acha atrativo.

É um cenário comum na Europa, e que reflete bem a cultura do consumo, pois um terço do que é produzido é descartado, por não atender a preferência do consumidor. Isso reflete no prejuízo aos produtores, que precisam baixar os preços e, consequentemente, recebem menos do que foi gasto na produção dos alimentos. 

Deste modo, o comportamento de consumo influencia diretamente na rentabilidade dos produtores, mas o ponto imprevisível é que não sabemos o que a natureza nos dá, porque os alimentos são moldados segundo as condições físicas e climáticas envolvidas no crescimento, entretanto eles compartilham da mesma qualidade, sabor e valor nutricional.

Iniciativas sustentáveis

Para reduzir o desperdício dos alimentos “imperfeitos”, conscientizar a população do consumo desses produtos e inseri-los ao mercado foram criadas algumas iniciativas como Fruta Feia, de Portugal, Imperfect Foods, dos Estados Unidos e Fruta Imperfeita, aqui no país.

Portugal, Estados Unidos e Brasil realizam iniciativas para o consumo de alimentos imperfeitos

No Brasil, também temos uma iniciativa chamada de Únicos Carrefour que oferece preços mais acessíveis por alimentos que normalmente seriam deixados nas gôndolas. 

Essas formas conscientes de consumo estão de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, que visa garantir padrões de consumo e produção sustentáveis no manejo dos recursos; diminuição de desperdício e geração de resíduos, bem como incentivar o mercado e as grandes empresas adotarem boas práticas.

Um sistema alimentar funcional só será construído, se a cadeia de produção for mais responsável no âmbito social, econômico e ambiental.

31/05/2022 10:30

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